Confira abaixo sua última postagem, sobre o filme "Noites de Circo", de Bergman.

(Pintura de Johanna Leipold - http://www.atelierjohanna.com)
NOITES DE CIRCO
“Sei que é doloroso um palhaço se afastar do palco por alguém.Volta, que a platéia te reclama, sei que choras palhaço, por alguém que não te ama."
Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.
Em 1953, quando foi lançado nos cinemas da Suécia, o filme foi massacrado pela crítica que o classificou no mínimo, de “desagradável”, “chocante” e “um vômito de uma refeição mal digerida.”
Já Pauline Kael, considera Noites de Circo como “um dos mais sombrios filmes de Bergman, onde ninguém se salva da danação total.”
Revi-o quarenta e poucos anos depois de sua estréia no Brasil.
À época, não apreendi o forte aspecto existencial do filme. Acreditava que existia um projeto de felicidade para o Ser Humano, com Glenn Miller como fundo musical...
Percebi, com o tempo, que a “coisa” era mais para Charlie Parker soluçando ao sax, Around Midnight e morrendo drogado aos trinta e quatro anos.
Digressões à parte, meu reencontro com Noites de Circo, foi um verdadeiro soco abaixo da linha da cintura.
Bergman não tem exatamente uma visão Pollyanna da vida. Cada fotograma exala desesperança, e ao mesmo tempo, uma enorme ternura pela precariedade da condição humana.
No primeiro plano, carroças silhuetadas no cimo de uma montanha, deslizando como um cortejo fúnebre. Ouve-se o canto de um galo. O primeiro. Depois, Frost, o palhaço, numa cena antológica, carregando sua mulher que nadava nua para a delícia de um bando de soldados, numa incrível fotografia expressionista do mestre Sven Nykvist, remetendo a Cristo carregando a cruz no calvário. As quedas, a humilhação.
A precariedade do circo ambulante, a pobreza dos esquetes, a interpretação de Ake Gromberg no limite da “teatralidade”, mas com uma intensidade emocional raramente vista. O público zombando às gargalhadas do chefe da trupe, gordo, patético, sendo espancado pelo ator que o traíra com sua jovem amante. O segundo canto do galo.
O circo, em preto e branco – sacada de gênio fugindo do previsível: cores, música esfuziante, a “alegria” que permitiria o escapismo ao espectador. E no final, Bergman, leitor de Nietzsche, o reverencia: O eterno retorno.
Em sentido contrário, as carroças no mesmo cimo da montanha silhuetadas, fecham o circulo. Negra imagem. Negro destino. O terceiro canto do galo.
CARLOS VEREZA
(www.carlosverezablog.blogspot.com)
Ainda não assistiu ao filme? Clique aqui e saiba mais:
http://www.geocities.com/Hollywood/Agency/8041/n_circo.html
Com o nosso carinho Coruja,